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Cia Daraus de Teatro
Marcela Nogueira

Crescer com a arte

 

Se o acaso existe, ele pode ser verificado na história de Marcela Nogueira na Cia Daraus de Teatro (CDT). Aos 13 anos, Marcela, curiosa pelos cartazes espalhados pela filial Higienópolis da Cultura Inglesa, foi conhecer o que era fazer teatro, e, dessa experiência, descobriu o equilíbrio entre liberdade e responsabilidade. Confira pelas palavras da atriz a capacidade transformadora e educativa das artes cênicas. E dizer que ela só tem 13 anos...

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CDT: O que te atrai no trabalho da CIA?

Marcela: O que me atrai no trabalho da CIA é o equilíbrio entre a liberdade e a responssabilidade. Por exemplo, durante o processo de montagem nós atores tivemos a liberdade de montar os nossos personagens da maneira que achávamos melhor, tivemos liberdade de ir em busca de adereços, vozes e corpos para eles, mas ao mesmo tempo que ganhamos essa liberdade ganhamos também a respossabilidade de saber usá-la, a responsabilidade de honrar o voto de confiança que nos era dado e esse equilíbrio é o que mais me atrai. 

 

CDT: Qual sua impressão de The Tutor ao ler o texto?

Marcela: Quando eu li o texto pela primeira vez eu pensei que era maluquice, uma história legal, mas ainda assim muito distante da realidade atual. Mas aí eu o reli e percebi que a maluca era eu! Apesar de ter sido adaptado por Brecht a mais de cinquenta anos o texto possui uma atualidade incrível, ele consegue fazer uma crítica severa a uma sociedade que por incrível que pareça não mudou, e mais incrível ainda, ele consegue passar ao leitor essa mensagem de maneira leve e engraçada.

 

CDT: Como foi, para você, o processo de montagem?

Marcela: Para mim o processo de montagem teve seus altos e baixos, foi um trabalho puxado que exigiu muito de todos os atores, exigiu responssabilidade, compromisso e principalmente força de vontade. Somos atores amadores que durante todo o processo fomos tratados praticamente como proficionais, todas essas exigências muitas vezes me cansavam principalmente quando eu parava e pensava: Por que eu tenho que me dedicar tanto se eu não vivio disso. E era aí que entrava a força de vontade, era aí que a vontade superava o cansaço e a preguiça, era aí que eu tinha que respirar e ver que tava acontecendo e que eu não podia parar naquele momento. E agora vendo tudo quase pronto eu dou graças a Deus por ter respirado nesses momentos, dou graças a Deus por não ter desistido, e por estar aqui no final vendo o resultado desse árduo, porém gratificante trabalho.

 

CDT: O que acha do texto e da peça?

Marcela: Como já disse, acho o texto fenomenal por sua atualidade e por sua capacidade de criticar e divertir ao mesmo tempo. Já em relação a peça acredito que o espectador vai se divertir e se chocar ao vê-la, acredito que ela será o ponto de partida para uma reflexão sobre a sociedade em que vivemos e o homem que a construiu.

 

CDT: Qual (s) seu (s) personagem (s)? Qual a importância deles para o espetáculo?

Marcela: O meu personagem de maior importância é o Conselheiro Titular, um burguês que resolve mandar o seu filho para a universidade acreditando que esse é o melhor caminho para a educação de seu herdeiro. Acredito que ele seja importante na peça, pois junto com o seu irmão, o Major, um nobre que opta pelo caminho contrário e contrata um prceptor para educar seus filhos, ele mostra que somos todos farinha do mesmo saco, não importa o que façamos da vida. Fazemos todos parte de uma sociedade baseada na castração, resumindo somos todos castradores. E somos castradores porque um dia fomos castrados.

 

CDT: Como se sente nesse período próximo da estréia?

Marcela: Me sinto quase como um liquidificador, parece que tem uma hélice dentro de mim misturando um monte de sentimentos: nervosismo, alegria, desespero estou na contagem regressiva e super ansiosa para que chegue dia 21, acho que não dá pra ficar calmamas pensando bem, acho que seu eu não estivesse nervosa não teria graça!

 

CDT: O que espera da temporada?

Marcela: Espero que corra tudo bem, que a peça que passamos tanto tempo montando atinja o público de alguma forma. Espero que quem a veja saia do teatro setisfeito e tocado pelo que viu.

 

CDT: Qual sua relação com o teatro antes dessa montagem e qual agora?

Marcela: Antes dessa montagem o teatro era uma coisa distante, não sabia direito como funcionava, afinal, nunca havia participado de nenhuma peça. Mas agora sei como funciona, sei o trabalho, a alegria e a ansiedade que dá montar uma peça, agora tenho certeza que toda peça que eu for assistir vou assistir com outros olhos, vou assistir provavelmente com mais carinho e vontade, pois sei que quem está no palco merece isso. Depois dessa montagem o teatro se tornou algo mais próximo, real e concreto na minha vida.