CDT: O que te atrai no trabalho da
CIA?
Marcela: O que me atrai no trabalho da CIA é o equilíbrio entre a liberdade e a responssabilidade.
Por exemplo, durante o processo de montagem nós atores tivemos a liberdade de montar os nossos personagens da maneira que
achávamos melhor, tivemos liberdade de ir em busca de adereços, vozes e corpos para eles, mas ao mesmo tempo que ganhamos
essa liberdade ganhamos também a respossabilidade de saber usá-la, a responsabilidade de honrar o voto de confiança que nos
era dado e esse equilíbrio é o que mais me atrai.
CDT: Qual sua impressão de The Tutor
ao ler o texto?
Marcela: Quando eu li o texto pela primeira vez eu pensei que era maluquice, uma história legal,
mas ainda assim muito distante da realidade atual. Mas aí eu o reli e percebi que a maluca era eu! Apesar de ter sido adaptado
por Brecht a mais de cinquenta anos o texto possui uma atualidade incrível, ele consegue fazer uma crítica severa a uma sociedade
que por incrível que pareça não mudou, e mais incrível ainda, ele consegue passar ao leitor essa mensagem de maneira leve
e engraçada.
CDT: Como foi, para você, o processo
de montagem?
Marcela: Para mim o processo de montagem teve seus altos e baixos, foi um trabalho puxado que
exigiu muito de todos os atores, exigiu responssabilidade, compromisso e principalmente força de vontade. Somos atores amadores
que durante todo o processo fomos tratados praticamente como proficionais, todas essas exigências muitas vezes me cansavam
principalmente quando eu parava e pensava: Por que eu tenho que me dedicar tanto se eu não vivio disso. E era aí que entrava
a força de vontade, era aí que a vontade superava o cansaço e a preguiça, era aí que eu tinha que respirar e ver que tava
acontecendo e que eu não podia parar naquele momento. E agora vendo tudo quase pronto eu dou graças a Deus por ter respirado
nesses momentos, dou graças a Deus por não ter desistido, e por estar aqui no final vendo o resultado desse árduo, porém gratificante
trabalho.
CDT: O que acha do texto e da peça?
Marcela: Como já disse, acho o texto fenomenal por sua atualidade e por sua capacidade de criticar
e divertir ao mesmo tempo. Já em relação a peça acredito que o espectador vai se divertir e se chocar ao vê-la, acredito que
ela será o ponto de partida para uma reflexão sobre a sociedade em que vivemos e o homem que a construiu.
CDT: Qual (s) seu (s) personagem (s)?
Qual a importância deles para o espetáculo?
Marcela: O meu personagem de maior importância é o Conselheiro Titular, um burguês que resolve
mandar o seu filho para a universidade acreditando que esse é o melhor caminho para a educação de seu herdeiro. Acredito que
ele seja importante na peça, pois junto com o seu irmão, o Major, um nobre que opta pelo caminho contrário e contrata um prceptor
para educar seus filhos, ele mostra que somos todos farinha do mesmo saco, não importa o que façamos da vida. Fazemos todos
parte de uma sociedade baseada na castração, resumindo somos todos castradores. E somos castradores porque um dia fomos castrados.
CDT: Como se sente nesse período próximo
da estréia?
Marcela: Me sinto quase como um liquidificador, parece que tem uma hélice
dentro de mim misturando um monte de sentimentos: nervosismo, alegria, desespero estou na contagem regressiva e super ansiosa
para que chegue dia 21, acho que não dá pra ficar calmamas pensando bem, acho que seu eu não estivesse nervosa não teria graça!
CDT: O que espera da temporada?
Marcela: Espero que corra tudo bem, que a peça que passamos tanto tempo montando atinja o público
de alguma forma. Espero que quem a veja saia do teatro setisfeito e tocado pelo que viu.
CDT: Qual sua relação com o teatro
antes dessa montagem e qual agora?
Marcela: Antes dessa montagem o teatro era uma coisa distante, não sabia direito como funcionava,
afinal, nunca havia participado de nenhuma peça. Mas agora sei como funciona, sei o trabalho, a alegria e a ansiedade que
dá montar uma peça, agora tenho certeza que toda peça que eu for assistir vou assistir com outros olhos, vou assistir provavelmente
com mais carinho e vontade, pois sei que quem está no palco merece isso. Depois dessa montagem o teatro se tornou algo mais
próximo, real e concreto na minha vida.