CTD: O que te atrai no trabalho da CIA?
Dani: A independência que ela adquiriu ao longo dos anos. Começamos com a simples de vontade de
ter um grupo de teatro, e hoje, sinto que ela faz mais do que isso. É muito emocionante saber que um trabalho teatral pode
ser formador de cidadãos mais conscientes e críticos. Como fico feliz quando vejo as pessoas se cobrando e me cobrando, pois
dessa forma, elas não estão passivas. É essa postura da Cia que me atrai.
CTD: Qual sua impressão de The Tutor ao ler o texto?
Dani: Sou um apaixonado. Desde que li The Tutor, na versão original de Lenz, e trabalhei com ela
na minha formação pela Unicamp me apaixonei. As vezes tenho dúvida se The Tutor é realmente um texto cômico, pois a situação
angustiante dos personagens me dá um sentido mais épico que cômico.
CTD: Como foi, para você, o processo de montagem?
Dani: Prazer e dor são as palavras que melhor definem essa montagem. Tive pela primeira vez em
muitos anos um grupo de artistas e não de alunos. Pessoas empenhadas em trabalhar e em se divertir. Curioso, quando começamos
a etapa final de montagem eu estava super receoso. Tínhamos poucos atores, muitos papéis e é super comum abandonos em montagens.
Mas nessa isso não ocorreu. De fevereiro para cá não tivemos nenhuma baixa. Isso tudo me orgulha e me motiva muito. Ao mesmo
tempo ele foi dolorido. Querer dar mais e não poder, aquela vontade de ensaiar quase todos os dias e não poder. Trabalhar
um texto e uma linguagem tão complexos com um grupo onde a maioria é iniciante me dava medo. Mas, a cada dia esse temor foi
se dissipando.
CTD: O que acha do texto e da peça?
Dani: Fantásticos. O texto é de uma genialidade incrível e acabou por se encaixar no momento ideal
para minha vida, onde questiono os sistemas de ensino. Essas escolas e universidades que têm se especializado em criar rebanhos,
prontos a obedecer. Se você fizer um estudo estrutural das faculdades (Cásper Líbero, Mackenzie, FMU e todas as outras) verá
que elas reproduzem um sistema autoritário e mercantilista. Não há uma preocupação pedagógica, de formação de cidadãos pensantes.
Isso me irrita muito e Brecht escancara esse incômodo. A peça da forma que está ridiculariza a maioria dessa sociedade de ovelhas. Precisamos dar um grito de liberdade, um chega para lá na acomodação.
CTD: Qual (s) seu (s) personagem (s)? Qual a importância deles para o espetáculo?
Dani: O Major é um dos maiores castradores da peça. É sádico, sacana, interesseiro e originário
de uma burguesia anti-ética e gananciosa. A maneira como ele trata Leopold, seu filho, é peçonhenta e , ao mesmo tempo, muito
comum nos dias atuais. Tudo para ele é instrumento para seu maior objetivo. Adaptar-se a nova ordem mundial e enriquecer com
ela.
CTD: Como se sente nesse período próximo da estréia?
Dani: Absurdamente nervoso. São muitos detalhes a se resolver e essa montagem é muito simples
e ao mesmo tempo grandiosa. Veja bem, temos quase 1200 lugares na nossa temporada. Mil e duzentos? Nossa. Para uma peça em
inglês isso é um absurdo. Tenho a esperança de que tenha conseguido mobilizar o máximo de pessoas que conheço, que elas não
se acomodem em comparecer e nos ajudem a multiplicar. Ainda hoje, a divulgação boca-a-boca é a mais eficiente e eficaz.
CTD: O que espera da temporada?
Dani: Espero satisfação de todos. Do público, dos atores e da equipe. Acima de tudo, espero sinceridade
e respostas verdadeiras. Se for um sucesso, que bom. Se for um fracasso, que ótimo! Ao longo do tempo vi duas ilustres figuras
do meio (Fernanda Montenegro e Antonio Abujamra) dizerem do bem que traz um fracasso. Já estou preparado para ele. Mas antes
fracassar por tentar fazer uma obra de arte, do que ter o sucesso a partir de fórmulas já estabelecidas de agrado ao público.
CTD: Qual sua relação com o teatro antes dessa montagem e qual agora?
Dani: Essa montagem para mim é uma frase em letras garrafais: ESTOU NO CAMINHO CERTO