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Cia Daraus de Teatro
Dani Ciasca

 

Um homem de teatro

 

Dani Ciasca é fundador da Cia Daraus de Teatro (CDT). Começou como ator na montagem de Perdoa-me por me traíres, de Nelson Rodrigues, pela FGV e desde que assumiu a direção de O que os olhos não vêem , o coração não sente (livre adaptação para Equus, de Peter Shafer) não parou mais. Nessa entrevista Dani conta com entusiasmo e emoção o processo iniciado em agosto de 2003 e que culmina com a estréia, hoje, às 21h, de The Tutor, de Bertolt Brecht.

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CTD: O que te atrai no trabalho da CIA?

Dani: A independência que ela adquiriu ao longo dos anos. Começamos com a simples de vontade de ter um grupo de teatro, e hoje, sinto que ela faz mais do que isso. É muito emocionante saber que um trabalho teatral pode ser formador de cidadãos mais conscientes e críticos. Como fico feliz quando vejo as pessoas se cobrando e me cobrando, pois dessa forma, elas não estão passivas. É essa postura da Cia que me atrai.

 

CTD: Qual sua impressão de The Tutor ao ler o texto?

Dani: Sou um apaixonado. Desde que li The Tutor, na versão original de Lenz, e trabalhei com ela na minha formação pela Unicamp me apaixonei. As vezes tenho dúvida se The Tutor é realmente um texto cômico, pois a situação angustiante dos personagens me dá um sentido mais épico que cômico.

 

CTD: Como foi, para você, o processo de montagem?

Dani: Prazer e dor são as palavras que melhor definem essa montagem. Tive pela primeira vez em muitos anos um grupo de artistas e não de alunos. Pessoas empenhadas em trabalhar e em se divertir. Curioso, quando começamos a etapa final de montagem eu estava super receoso. Tínhamos poucos atores, muitos papéis e é super comum abandonos em montagens. Mas nessa isso não ocorreu. De fevereiro para cá não tivemos nenhuma baixa. Isso tudo me orgulha e me motiva muito. Ao mesmo tempo ele foi dolorido. Querer dar mais e não poder, aquela vontade de ensaiar quase todos os dias e não poder. Trabalhar um texto e uma linguagem tão complexos com um grupo onde a maioria é iniciante me dava medo. Mas, a cada dia esse temor foi se dissipando.

 

CTD: O que acha do texto e da peça?

Dani: Fantásticos. O texto é de uma genialidade incrível e acabou por se encaixar no momento ideal para minha vida, onde questiono os sistemas de ensino. Essas escolas e universidades que têm se especializado em criar rebanhos, prontos a obedecer. Se você fizer um estudo estrutural das faculdades (Cásper Líbero, Mackenzie, FMU e todas as outras) verá que elas reproduzem um sistema autoritário e mercantilista. Não há uma preocupação pedagógica, de formação de cidadãos pensantes. Isso me irrita muito e Brecht escancara esse incômodo. A peça da forma que está ridiculariza a maioria  dessa sociedade de ovelhas. Precisamos dar um grito de liberdade, um chega para lá na acomodação.

 

CTD: Qual (s) seu (s) personagem (s)? Qual a importância deles para o espetáculo?

Dani: O Major é um dos maiores castradores da peça. É sádico, sacana, interesseiro e originário de uma burguesia anti-ética e gananciosa. A maneira como ele trata Leopold, seu filho, é peçonhenta e , ao mesmo tempo, muito comum nos dias atuais. Tudo para ele é instrumento para seu maior objetivo. Adaptar-se a nova ordem mundial e enriquecer com ela.

 

CTD: Como se sente nesse período próximo da estréia?

Dani: Absurdamente nervoso. São muitos detalhes a se resolver e essa montagem é muito simples e ao mesmo tempo grandiosa. Veja bem, temos quase 1200 lugares na nossa temporada. Mil e duzentos? Nossa. Para uma peça em inglês isso é um absurdo. Tenho a esperança de que tenha conseguido mobilizar o máximo de pessoas que conheço, que elas não se acomodem em comparecer e nos ajudem a multiplicar. Ainda hoje, a divulgação boca-a-boca é a mais eficiente e eficaz.

 

CTD: O que espera da temporada?

Dani: Espero satisfação de todos. Do público, dos atores e da equipe. Acima de tudo, espero sinceridade e respostas verdadeiras. Se for um sucesso, que bom. Se for um fracasso, que ótimo! Ao longo do tempo vi duas ilustres figuras do meio (Fernanda Montenegro e Antonio Abujamra) dizerem do bem que traz um fracasso. Já estou preparado para ele. Mas antes fracassar por tentar fazer uma obra de arte, do que ter o sucesso a partir de fórmulas já estabelecidas de agrado ao público.

 

CTD: Qual sua relação com o teatro antes dessa montagem e qual agora?

Dani: Essa montagem para mim é uma frase em letras garrafais: ESTOU NO CAMINHO CERTO